Séculos de história como espécie, deixaram um rasto amplo de descobertas, progressos e pensamentos que se foram impondo. Como é dito triunfalmente na ode, redundância cantada e escrita num jato e à maquina de escrever por AC, o passado está dentro de nós e todo o futuro também já está dentro do presente. De facto, aquilo que somos no presente é o reflexo mais evidente do que fomos no passado. Não somos estrelas, não no sentido literal, mas, da mesma forma que ao olharmos para o céu estamos a ver, não o presente, mas o passado, o mais vulgar objeto, mesmo que aparentemente digno de que o invoquem pela abreviatura de cristo e repleto de contemporaneidade, tem uma história para contar que nos remete para o passado. Pode ser difícil compreender que o melhor museu sobre o passado é o próprio simples e alcançável presente. A realidade atual é essência autêntica de um passado mais ou menos distante. O presente - por abarcar também o passado - reconhece apenas um pretérito, o imperfeito. Um pretérito continuado que se prolongou até ao presente. Desta forma, somos um espelho do passado e um reflexo, se tal metáfora puder ser assim usada, do futuro. Como o passado é parte fundamental do que somos hoje, o presente, por sua vez, é já parte irreversivelmente importante do que será o futuro.
É a partir deste ponto de vista transversal a épocas e eventos, e que despreza a orientação no tempo, que surge a triste, mas real constatação de que existem múltiplas estruturas análogas na dicotomia passado-presente. Continuamos a assistir aos jogos nos coliseus do império romano, com as multidões a vibrar com a glória ou fracasso dos guerreiros, agora chamados de estádios de futebol e sem que se atirem pães para as bancadas. Mudam-se os tempos, permanecem algumas vontades. E mesmo sendo todo o mundo constituído de mudança, há coisas que teimam em não mudar. Sobre estas semelhanças há essencialmente duas coisas a reter. Note-se que os mesmos princípios poderiam ser aplicados a toda e qualquer coisa que tenha perdurado no tempo sem que as mais divergentes teorias e movimentos as tenham abalado o suficiente. A primeira é que, passados uns largos séculos, com todos os seus acontecimentos peculiares, onde se viu gente espantosa nascer e morrer, onde se assistiu a eclipses lunares embora conhecidos por outros nomes, onde se enfrentaram invasões e se viram monarquias a serem depostas, este modelo de espetáculo continua a ser largamente apreciado em todo o mundo e a juntar multidões. Outros espetáculos há, que de forma menos ou mais profana também conseguem fazer chegar até si e são por sua vez demonstrações de uma dinâmica de grupo muito curiosa. Perdurou até aos nossos dias como lembrança viva de um modelo que já era tido como capaz de assegurar tempo de qualidade a uma larga audiência. A segunda, em consequência da primeira, faz-nos perceber o porquê de tal ter subsistido, - certo é que com as mudanças que as décadas foram impondo - até aos nossos dias. Se este modelo continua a guiar e, quase que a comandar o comportamento de um grupo alargado de pessoas, pode ser usado para os mesmos fins que eram usadas as arenas na antiga Roma. A César o que é de César!