Bartolomeu Lourenço de Gusmão,
nasceu em Santos no Brasil em 1675. Por ser o autor daquela que é considerada a
primeira máquina da história capaz de fazer um ser humano voar – um aeróstato
primitivo -, ficou conhecido como “O Padre Voador”. Apesar de hoje ser um
cognome notável e grandioso, - capaz de fazer corar qualquer rei de qualquer
dinastia - na época foi-lhe atribuído com um sentido depreciativo, estando
voador, neste contexto, perto de lunático, fantasioso, excêntrico… tolo ou
maluco, como era tomado pela maioria das pessoas do seu tempo. É evidente que o
povo dessa época enaltecia os descobrimentos marítimos e a conquista de novas
terras, porém, o domínio do céu fazia-lhes confusão. Como se fosse lá o céu
pertença dos homens! De facto, o fascínio de Bartolomeu de Gusmão em construir
um objeto capaz de voar, faz de Portugal um país que partiu para os descobrimentos
em quase todas as direções! Também a atribuição do nome “Passarola” a este tal
objeto que, pela primeira vez na história faria alguém voar, denota o quanto
Bartolomeu de Gusmão e a sua invenção foram ridicularizados. O mais famoso
desenho da passarola é um bom exemplo disso. Asas e cabeça de pássaro na proa
eram duas das características fundamentais para que a invenção de Bartolomeu de
Gusmão levantasse voo. Afinal de contas os pássaros conseguiam e ninguém lhes
perguntava como! Apesar dessa ser uma noção popular que parece ter ficado
imortalizada nos famosos desenhos da Passarola, Bartolomeu de Gusmão nunca deve
ter tido tal ideia, pelo menos nenhuma evidência nos leva a acreditar em tal
coisa. Um entendido em física como era Bartolomeu de Gusmão teria, por certo, o
conhecimento fundamental para compreender as leis gravitacionais, de dinâmica
etc. e perceber quais as características necessárias para que o seu objeto
pudesse efetivamente voar. Não foram as leis da física que inquietaram
Bartolomeu de Gusmão, essa tarefa havia de caber ao Tribunal do Santo Ofício
que o acusou de se ter convertido ao judaísmo e de pactuar com os chamados
cristãos-novos. Apesar de se ter exilado em Espanha, onde acabaria por morrer
na cidade de Toledo, Bartolomeu de Gusmão não chegou a sofrer verdadeiramente
nas mãos dos inquisidores. Arrisco-me até a chama-lo de “O Isaac Newton
português”. Fiel aos valores da doutrina cristã católica mas também um homem
das ciências que estava claramente à frente do seu tempo. Deixou-nos uma enorme
herança cultural onde se somam outras incríveis invenções. Há também que saudar
o facto de não ter resistido até aos nossos dias nenhum registo acerca do
aspeto físico e funcional da Passarola. É claro que se perde uma parte
importante da história portuguesa e mundial, porém, isso deixa-nos em aberto a
inventiva popular e a imaginação em volta de todo e qualquer objeto com proa,
um balão, bico e asas. Foi assim que a Passarola ficou conhecida em todo o
mundo, e mesmo não sendo capaz de levantar voo, acabou por voar!