Romanesco

Não tenho por hábito comer objetos de estudo. Sem dúvida uma bela maneira de introduzir um assunto. Nada melhor do que iniciar uma linha de pensamento com uma conclusão absurda. Não, não tenho esse hábito, porque esses, os objetos, foram sendo arranjados e feitos para um propósito muito específico - o estudo - e não para saciar ou satisfazer as necessidades tão somente fisiológicas de um humano. Confundir estes dois propósitos parece, num primeiro momento, estapafúrdio. Ainda para mais, quando desde pequeninos  somos ensinados que com a comida não se brinca. Por certo esta lição deve estar sempre presente, de acordo. Mas, assim sendo, como poderia então eu brincar com comida? Não se trata de brincar, de uma maneira convencional, como faríamos com tudo aquilo que é tipicamente de brincar, onde não se incluem estes objetos que poderiam muito bem figurar numa obra de arte de natureza morta. 
Tudo isto surgiu na minha cabeça quando olhei para uma couve romanesca. Não querendo saber do seu calibre, ou de qualquer outra característica que fariam de mim imediatamente um potencial comprador, concentrei-me noutra particularidade. Não teria de ser esta variedade em específico, uma vez que não só esta partilha desta característica, mas, nenhuma outra há que seja tão esteticamente atraente como a romanesca – as outras couves que me perdoem. 
A característica de que falo é a sua infinita repetição. Não se assustem aqueles que, por repetição, entendem que esta passará a constar, invariavelmente, nas sopas e saladas e que o seu fundo não se esgota. Não se trata, pois, de um recurso inesgotável. A sua teórica infinidade está confinada à sua área de superfície, e essa, é finita. A couve romanesca é um exemplo evidente de fractal. À parte outros que aparecem na natureza de forma mais subtil, no romanesco esta propriedade, - que não consta na tabela nutricional, mas que é conhecida noutras áreas, - é flagrante. Por certo não interessa ao consumidor comum esta propriedade mais do que a quantidade de proteínas ou de caroteno presentes nesta planta hortícola.
A sua forma espiralizada denuncia a simplicidade, e ao mesmo tempo complexidade, ou, por outras palavras, preguiça, da disposição natural das coisas. Trata-se simplesmente de uma cópia, uma repetição organizada da mesma forma geométrica.
Como quando cortamos brócolos e ficamos com partes mais pequenas do que a inicial, mas com a mesma forma. Caso evidente onde uma teoria matemática pode ser facilmente compreendida com um exemplo concreto, num contexto real. 
Provavelmente é isso que se encontra em comum no romanesco e nas obras de Pollock. E é também isso que se encontra em comum entre os consumidores de um e os primeiros críticos à obra de outro, não viam mais do que, um alimento no primeiro caso, e uma tela salpicada com tinta no segundo.