O Fim da Convivência

Já parou para pensar na parte de culpa que tem de cada vez que alguém é vítima de violência doméstica? Muito provavelmente não. Não se culpe por isso. Mas, será que não temos mesmo alguma culpa? Numa sociedade perfeita não existiria, obviamente, violência doméstica. Infelizmente nunca teremos uma por isso, aquilo que para mim estaria mais próximo do aceitável seria uma sociedade onde as taxas rondassem os 50% de homem para mulher e, 50% de mulher para homem. A ordem foi aqui puramente aleatória. De facto até esta ordem pode causar alguma desconfiança sobre a forma como a violência doméstica mais comum na atualidade aparece em primeiro lugar. Mais perto do pensamento também, que só a muito poucos lembra uma mulher agredir física e/ou verbalmente um homem quando é de violência doméstica que se trata. Com certeza que um dos passos mais importantes para combate-la, é combater primeiro os preconceitos existentes sobre ela. Ainda achamos mais "aceitável", por um lado, um homem bater numa mulher do que o contrário, porém, sensibilizamo-nos também mais facilmente com uma mulher agredida do que com um homem. De cada vez que ridicularizamos uma ligeira agressão de uma mulher para com um homem, estamos a assumir que isso é humilhante, e que, o suposto elemento dominador do casal está a falhar redondamente. Sobre casais do mesmo sexo não vou aprofundar embora a violência evidentemente também exista. Isso pode justificar a grande curiosidade em saber qual o elemento do casal que faz de homem ou mulher. Numa altura em que 40% dos casos de violência doméstica no Reino Unido são de mulher para homem, é impensável continuarmos a achar que casos destes são pontuais. Em Portugal rondam os 20%. E basta uma chapada para se cometer uma agressão, basta levantar a mão. A mesma que é símbolo de paz é também símbolo dos maiores atos de violência física. Tal como muitos outros símbolos de paz. Será que uma pessoa com puder para acabar com milhares de vidas, se não o fizer, é merecedor do prémio Nobel da paz? É que num mundo onde os conflitos são inevitáveis, poder-se-ia premiar, não quem realmente contribuí para a paz mundial, porque esses são muito poucos, mas sim quem não agrava a situação. O que já não é mau! 
Mas a paz pode ter também um "lado fascista". Quando se indicou, em 2014, Malala Yousafzai para o prémio Nobel da paz, claramente não foi pelas suas atitudes pacifistas. Foi exatamente pelo seu ativismo pelos direitos das mulheres no Paquistão. Ou seja, não promovendo propriamente a paz, uma vez que se opôs ao regime, Malala promoveu a liberdade de expressão e o direito à educação o que lhe valeu, e muito bem, essa indicação.
Em todas as suas formas e dimensões. Violência é violência. Enquanto não tivermos bem presente isso vamos continuar a ser uma espécie de cúmplices silenciosos.

Caixas Self-Service

Já existe em muitos hipermercados uma coisa que está a mudar a forma como fazemos compras. São as chamadas caixas self-service onde é o próprio cliente que registas os seus produtos. Desde logo uma lufada de ar fresco no nome, self-service, um estrangeirismo já mais conhecido do que o meu conterrâneo take-away. Sobre estas máquinas, muito pode ser dito. Como principais vantagens são apontadas a proximidade que se estabelece entre o cliente e a marca e a privacidade, e alguma confiança também, que é dada ao cliente. Claro que é compensador chegar à caixa e não haver nenhum funcionário. Apesar de não parecer, um funcionário é uma pessoa com personalidade e nem todos os que “têm sempre razão”, estão dispostos a levar com ela. Cada vez nos damos melhor com as máquinas. O cliente sente-se tão adulto, como uma criança que acaba de deixar as rodinhas da bicicleta. Por outro lado, não haver funcionário na caixa deixa também o cliente mais calmo com possíveis risinhos que surjam por parte do funcionário devido à compra de um ou de outro produto. Como é bom puder passar livremente os códigos de barras sem nenhuma incomoda supervisão. Para além de uma maior proximidade com a marca, o cliente aproveita para se divertir. “Afinal isto até é giro!”, pensam alguns encantados com aquilo, como se estivessem na Kidzania.
Mas nem tudo são benefícios e também aqui são apontados alguns pontos fracos, entre eles, o golpe das grandes superfícies para reduzir os custos com pessoal. Claro que é tentador pensar nas despesas a menos usando o cliente como funcionário. Contudo, não consigo ver mais desvantagens do que vantagens nestas máquinas. Ainda está longe de ser uma realidade em todos os hipermercados e ocupa apenas uma pequena porção do total de caixas. Mas, estamos numa altura em que alguns empregos já não fazem grande sentido existirem. Temo que este venha a ser um deles.
A pergunta que se impõem é, será que nos devemos preocupar quando pessoas passam a fazer o trabalho de máquinas que até então era feito por outras pessoas? Continuo sem resposta.  

Terminologias

A língua portuguesa tem mais de meio milénio de existência. Com ela, Camões já fez história, na história de um povo. Há quem a consiga manusear como se de um fino fio de ouro se tratasse. Génios aqueles que a partir dela, criticaram os costumes de um povo cego e baralhado. Agora estudamos as suas obras que na altura, se não era fogueira era cárcere. Mas nem todos nos podemos queixar. Pelo menos disso. De resto a terminologia da língua portuguesa sofre muitas alterações. Mesmo agora, enquanto lê este texto, é provável que, um pronome seja considerado um determinante por um iluminado. É possível que um complemento até então oblíquo, seja agora de frase. Se pensa que domina a gramática, há que perguntar, qual delas? Uma coisa é certa, quanto mais ambígua uma gramática é, menor valor ela tem. O acordo ortográfico veio uniformizar a grafia do português nos diferentes países que o falam, porém, com as tantas terminologias, é impossível estabelecer-se uma conversa com uma qualquer pessoa que aprendeu uma gramática diferente da minha. Também porque naturalmente não é um tema falado. Se o argumento base do acordo foi unificar a língua, esse perde toda a sua credibilidade quando a cada geração se muda toda a terminologia. Em onze anos de estudo da língua portuguesa e do português, já fui confrontado com duas. Os terminologistas que estudam a nossa língua, em primeiro, e o mais certo, mudam-na vezes de mais e, depois, tornam-na inútil pela razão que referi anteriormente acabando por se exularem na sua própria gramática. O português, língua, vê-se confrontado com mudanças constantes, o português, povo, ao que parece, vê tudo na mesma. Se por um lado, diversas terminologias da gramática fazem com que eu use várias em simultâneo, por outro, fazem com que eu não domine nenhuma delas. Vamos lá falar português erudito e mostrar o nosso conhecimento sobre essa matéria. Existem as ciências exatas, que para além de serem iguais nos quatro cantos do mundo, são eternas e imutáveis. Sabemos tão bem que 1 + 1 é 2 porque criamos esses algarismos e essa simbologia. E assim será sempre. O bom de ciências como a matemática é isso mesmo, pode até ter mais do que um nome, mas é sempre a mesma coisa. Ora, também criamos a língua que falamos, esculpimo-la e aperfeiçoámo-la, mas não a conhecemos de facto. A gramática ainda não é exata nem eterna. O domínio que as palavras têm, só aqui pode ser comprovado. Como se todos estivéssemos apenas próximos de uma gramática correta, que no entanto nunca poderá ser alcançada por nenhum de nós.
Uma das coisas, das poucas, que já aprendi na vida, é que, o tempo não é todo igual. Tempo, tempo, tempo. Toda a nossa vida é regida de horários a cumprir e, em todo o mundo, o timing é crucial para o sucesso. Já foi questionado se de facto existia o tempo, ou se era apenas uma ilusão, ou ainda, se tempo e o espaço não passavam de um conceito comum. Afinal, não é por acaso que há quem diga por exemplo, "no espaço de um mês". Ora, do conhecimento geral é a diferença horária por esse mundo fora. As linhas de data que dividem o globo em meridianos imperfeitos ditam a hora de cada território. Esta é a parte mais formal de interpretar o tempo. Porém, é bem mais complexo do que parece. Em regiões onde a data é a mesma, o tempo pode, de facto ser diferente. Sim, fonética e gramaticalmente isso é possível. O que, mais uma vez o português faz por nós. O tempo é dito de forma diferente em regiões com a mesma data. Quando são onze menos cinco no Porto, são cinco para as onze em Lisboa. Pormenores que fazem uma grande diferença. Discurso falacioso, este, sobre tempo diferente, mas, afinal não é disto que é feita a língua portuguesa?
O bom de aprender uma gramática, é conhecê-la. O bom de aprender várias, é não conhecer nenhuma.