Fenômeno Stephani

A tempestade que se faz sentir por estes dias, tem agora o nome de Stephani. Ondas gigantes, fortes rajadas de vento e chuvas intensas são alguns dos fenômenos que caracterizam esta tempestade. Na abertura dos noticiários vê-se, irremediavelmente, a proteção civil a chamar a atenção aos curiosos que se juntam na marginal. Se até então muitas eram as pessoas que tiravam proveito deste tipo de fenômenos da natureza, a partir de agora prevejo que sejam ainda mais. Agora os portugueses não têm apenas uma nortada que levanta grandes ondas, têm sim, uma tempestade, a saber apelidada com um nome feminino americano. Ora, quem não quer ver mais de perto a tempestade Stephani? Eu estou-me a conter, porque de facto receber um evento como este em Portugal, não é todos os dias. Nos EUA, atribui-se anualmente nomes femininos a furacões, usando o alfabeto para ordenar esses fenômenos por data. Agora querem afastar as pessoas da marginal? Passem a chamar-lhe outra coisa, como por exemplo... sei lá, "mau tempo" só assim... Desconfio que "mau tempo" não seja tão comercial como "tempestade Stephani". Ou seja, mais do que estarmos perante um fenômeno da natureza, estamos perante um fenômeno de popularidade.

Coadoção

Ultimamente tem-se voltado a ouvir falar de coadoção. Depois de em maio do ano passado ter sido aprovada na generalidade a possibilidade de um membro de um casal gay poder coadotar uma criança - biológica ou adotiva - do outro membro do canal, agora fala-se em referendar a questão. A constitucionalidade do referendo está atualmente sobre a mesa do tribunal constitucional. Mas, independentemente de vir a ser referendado ou não, acho que é conveniente as pessoas saberem o que é afinal a coadoção. Antes de mais a coadoção não é coisa de homossexuais. Não se trata de um gueto legal nem de outro nome para aquilo a que é habitualmente chamado de adoção para casais heterossexuais. A coadoção para estes últimos está prevista na lei há décadas, e, o problema que levou à criação desta lei é o mesmo que levou à proposta de lei sobre a coadoção por parte de casais homossexuais. A coadoção serve para que em caso de morte do membro do casal com ligações legais à criança, esta possa ficar ao cuidado do outro membro em vez de ser levada para uma instituição. No fundo, esta lei vem formalizar uma relação de parentesco que já existe. Obviamente a criança convive com quem toma conta dela, quer sejam duas mães, dois pais, ou um pai e uma mãe. São família e ela certamente os reconhecerá como tal. 
Os opositores a esta lei argumentam dizendo que uma criança precisa de um pai e de uma mãe para se desenvolver corretamente, ou pelo menos o mais corretamente possível. Tudo certo até agora, eu, acrescentaria talvez um tio. Uma criança precisa de um pai, uma mãe e um tio. Dá sempre jeito ter um tio também. E um irmão talvez. Avós são importantes também. De facto, limitar o desenvolvimento de uma criança a duas figuras quando existem tantas que convivem com ela, é redutor. 
Em Portugal é possível concorrer ao progresso de adoção sem se ser casado. Singularmente é possível fazê-lo. Mas afinal uma criança precisa de uma pai e de uma mãe ou apenas uma destas figuras chega?
O mais engraçado é que os opositores ao casamento gay que à uns anos atrás argumentavam dizendo que não era a altura para o pais decidir sobre essa questão porque haviam problemas mais importantes para resolver, como o estado financeiro e a crise econômica. Agora, alguns desses mesmos opositores apoiam o referendo sobre a coadoção. Será que o país melhorou assim tanto para se "dar ao luxo" de referendar este tipo de direitos? É óbvio que não. Concordo que um referendo é uma das formas mais democráticas de aprovar leis, mas não acho que seja aplicável a todas as situações e esta penso ser uma situação onde um referendo não venha resolver o problema. E porque é que um referendo não resolve a questão da coadoção? Apesar de um referendo ser uma forma eficaz – cara, mas eficaz - de legislar segundo a intervenção popular, não parece lá muito boa ideia neste caso. Sendo esta lei destinada particularmente a casais homossexuais, não me parece justo por todo o país a votar sobre ela. Principalmente quando alguns deles partem logo para a rejeição quando leem a palavra "homossexuais" lá pelo meio. Agora parte do conceito de democracia de cada um. Uma regra matemática com base na opinião da maioria resulta a maior parte das vezes. Afinal, se o problema não é a homossexualidade dos cônjuges, nem a falta de um dos gêneros num casal, qual é então? 
Ah! Já sei. O problema é o acordo ortográfico. Também me faz confusão escrever coadoção em vez de co-adopção...