Terminologias

A língua portuguesa tem mais de meio milénio de existência. Com ela, Camões já fez história, na história de um povo. Há quem a consiga manusear como se de um fino fio de ouro se tratasse. Génios aqueles que a partir dela, criticaram os costumes de um povo cego e baralhado. Agora estudamos as suas obras que na altura, se não era fogueira era cárcere. Mas nem todos nos podemos queixar. Pelo menos disso. De resto a terminologia da língua portuguesa sofre muitas alterações. Mesmo agora, enquanto lê este texto, é provável que, um pronome seja considerado um determinante por um iluminado. É possível que um complemento até então oblíquo, seja agora de frase. Se pensa que domina a gramática, há que perguntar, qual delas? Uma coisa é certa, quanto mais ambígua uma gramática é, menor valor ela tem. O acordo ortográfico veio uniformizar a grafia do português nos diferentes países que o falam, porém, com as tantas terminologias, é impossível estabelecer-se uma conversa com uma qualquer pessoa que aprendeu uma gramática diferente da minha. Também porque naturalmente não é um tema falado. Se o argumento base do acordo foi unificar a língua, esse perde toda a sua credibilidade quando a cada geração se muda toda a terminologia. Em onze anos de estudo da língua portuguesa e do português, já fui confrontado com duas. Os terminologistas que estudam a nossa língua, em primeiro, e o mais certo, mudam-na vezes de mais e, depois, tornam-na inútil pela razão que referi anteriormente acabando por se exularem na sua própria gramática. O português, língua, vê-se confrontado com mudanças constantes, o português, povo, ao que parece, vê tudo na mesma. Se por um lado, diversas terminologias da gramática fazem com que eu use várias em simultâneo, por outro, fazem com que eu não domine nenhuma delas. Vamos lá falar português erudito e mostrar o nosso conhecimento sobre essa matéria. Existem as ciências exatas, que para além de serem iguais nos quatro cantos do mundo, são eternas e imutáveis. Sabemos tão bem que 1 + 1 é 2 porque criamos esses algarismos e essa simbologia. E assim será sempre. O bom de ciências como a matemática é isso mesmo, pode até ter mais do que um nome, mas é sempre a mesma coisa. Ora, também criamos a língua que falamos, esculpimo-la e aperfeiçoámo-la, mas não a conhecemos de facto. A gramática ainda não é exata nem eterna. O domínio que as palavras têm, só aqui pode ser comprovado. Como se todos estivéssemos apenas próximos de uma gramática correta, que no entanto nunca poderá ser alcançada por nenhum de nós.
Uma das coisas, das poucas, que já aprendi na vida, é que, o tempo não é todo igual. Tempo, tempo, tempo. Toda a nossa vida é regida de horários a cumprir e, em todo o mundo, o timing é crucial para o sucesso. Já foi questionado se de facto existia o tempo, ou se era apenas uma ilusão, ou ainda, se tempo e o espaço não passavam de um conceito comum. Afinal, não é por acaso que há quem diga por exemplo, "no espaço de um mês". Ora, do conhecimento geral é a diferença horária por esse mundo fora. As linhas de data que dividem o globo em meridianos imperfeitos ditam a hora de cada território. Esta é a parte mais formal de interpretar o tempo. Porém, é bem mais complexo do que parece. Em regiões onde a data é a mesma, o tempo pode, de facto ser diferente. Sim, fonética e gramaticalmente isso é possível. O que, mais uma vez o português faz por nós. O tempo é dito de forma diferente em regiões com a mesma data. Quando são onze menos cinco no Porto, são cinco para as onze em Lisboa. Pormenores que fazem uma grande diferença. Discurso falacioso, este, sobre tempo diferente, mas, afinal não é disto que é feita a língua portuguesa?
O bom de aprender uma gramática, é conhecê-la. O bom de aprender várias, é não conhecer nenhuma.