A Teoria do Adiamento

Adoramos adiar tudo e mais alguma coisa. Dá-nos um gozo enorme adiar seja o que for. Adiar é humano, tanto como errar e todas as outras coisas tipicamente humanas. Nunca, ou quase nunca fazemos aquilo que estamos convictos de que um dia vamos fazer. Isto porque os nossos planos são mais do que muitos e apenas uma pequena parte deles acaba de facto por se realizar. "Vou-me inscrever no ginásio!", "Vou reduzir nos fritos.", "Vou fazer voluntariado.", "Vou ler este livro." Promessas que com o tempo se vão desvairando, transformando-se o “vou fazer” em “hei-de fazer” e posteriormente numa fase já de derrota, em "queria fazer" até que se deteriora completamente caso não se venha a realizar. A indefinição do quando vamos fazer causa em nós uma sensação fantástica. É sem dúvida melhor viver num estado de "hei-de fazer um dia" do que num de "vou fazer no dia...". Viver no adiamento é por um lado acharmos que aquilo que queremos fazer está próximo, uma vez que é recorrente no pensamento, estando no entanto longe de vir a acontecer. Adiamos tanto o agradável como o desagradável o evitável e até o inevitável tentamos adiar. Em todo o caso é compreensível viver no adiamento. Adiar alguma coisa é prolongá-la no tempo. Proporciona-nos um grande prazer saborear uma comida de que gostamos muito. Nesta situação não estamos a adiar mas sim a antecipar o prazer resultante só de pensar no delicioso prato que temos à nossa espera. E, adiando esse prazer, prolongamos o prazer que nos dá saber que uma refeição vai ser do nosso agrado. Em certa medida, este prazer resultante da antecipação pode ser até melhor que o proporcionado pela degustação do prato em si.  Adiar é a procura de um prazer prolongado e constante. No entanto, a verdade é que imaginamos as experiências futuras sempre mais surpreendentes do que aquilo que elas vêm de facto a ser. Por isso, é de aproveitar a fase de adiamento, a fase do "Enquanto não chega" porque o resto não é assim tão bom. É uma desilusão. Uma treta.