Dia de Reis

Não me puseram o nome Baltasar. Não me puseram o nome Gaspar, nem ousaram chamar-me Belchior. Vieram os três por sua ordem, cada qual com um presente para oferecer ao recém-nascido menino que havia despertado tal curiosidade aos reis magos. Passou a ser para sempre o dia de reis aquando da sua chegada, contavam-se seis dias do começo do ano. Acaso havia eu de nascer nesse mesmo dia, uns tantos séculos depois, dia seis de janeiro. E porque já se convencionou, por ocasião ou bom costume, por um nome alusivo ao dia de nascimento, eu poderia muito bem ser hoje homónimo de um desses reis, Gaspar, Belchior ou Baltasar. Desprezando regras e convenções do registo civil deste país que para efeitos de comunhão consideraremos que aceitariam qualquer um destes nomes. Também não me puseram o nome Reinaldo. Embora não conste que este dia seis se tenha assim chamado por obra de um Reinaldo, o prefixo rei que este nome tem o privilégio de possuir é por si só tentador. Indo ainda a outros reis, que não os magos, deste pais ou de outros, de agora ou de outrora, de qualquer dinastia, reais ou ficcionais, fica a lista de possíveis nomes bem mais extensa. Um enorme rol de Henriques, Joões, Sanchos, Pedros, Migueis, Filipes, Artures, Fernandos, Davides, Franciscos, Luís ou Carlos. Juntando os fictícios aos reais, Joffrey, Tommen, Robert ou Stannis. Ainda assim havia de ser outra a inspiração do meu nome resultado de influências do qual a existência eu próprio desconheço. Não remontaram a um tal poeta da escola de Epicuro e de Zenão de Cicio, médico que nunca exerceu, latinista de formação e amante da cultura clássica. Não me puseram o nome de Ricardo. Não o nome dele nem o próprio nome, que em verdade os poemas de Ricardo Reis não foram escritos por ele mas antes por alguém com o mesmo nome, como faz por explicar uma das leis de Murphy. Havia de ser outra a inspiração para o meu nome...