Conto Infantil Terrível

Uma reflexão sobre as histórias que nos contavam quando éramos pequenos pode levarmos a repensar o quão fascinante alguns contos podem ser! Começando com um clássico, com um conto que talvez já tenha sido mais adaptado a outras situações do que contado na versão original. E isto de ler um conto sem alterar um ponto é muito relativo, e como quero provar, a própria perceção da história muda com a idade do leitor ou ouvinte... Às vezes nem é a história que muda, somos nos mesmos. A história da carochinha, um conto de infância que mais se assemelha a uma novela mexicana. Conta a história de um inseto, provavelmente da família dos besouros, chamada Carochinha, que varria a casa quando encontra uma moeda. Arranja-se e põem-se à janela, à procura de um possível noivo. Passou o cão, o porco, o galo, o gato, o burro e finalmente o João Ratão. A carochinha apaixonou-se por este último. No dia do casamento o João Ratão esqueceu-se das luvas em casa e quando as foi buscar não resistiu, e quando ia para cheirar ou provar a comida, caiu ao caldeirão. A carochinha quando regressou a casa viu o seu noivo cozido e desatou a chorar. É assim, a história muito resumida da carochinha. Outras historia como a "Lebre e a Tartaruga", "A Cigarra e a Formiga" ou "O Pinóquio" têm uma lição de compreensão quase instantânea, enquanto que o conto da Carochinha e do João Ratão é um tanto mais abstrato e pode até ter mensagens omitidas. Será que pretendia passar a ideia de que quem tem uma moeda pode escolher o seu cônjuge? Será a de que a noiva nem sempre é a última a chegar para o casamento? Será simplesmente a de que varrer a casa pode mudar a vida de alguém? Ou será a de que não se deve meter o nariz onde não se é chamado, como aconteceu ao João Ratão? Ou até a de que se pode ficar viúvo mesmo antes de casar? Mas mesmo que até nem seja nenhuma destas, não havia necessidade de uma história de infância acabar desta forma. O que faz deste um dos poucos contos que tem um final trágico. É que nem mesmo na história do "Lobo mau e os sete carneirinhos", em que eles enchem a barriga do lobo com pedras, consegue acabar mal porque tem um final minimamente feliz apesar da terrível operação por que o lobo tem de passar! Já agora fica aqui o apelo para deixarem de usar (quase) sempre o lobo como o mau da história. Aproveitem outros animais que à partida parecem inofensivos, afinal o carácter é que conta! Fica também a sugestão para uma introspeção às histórias de nos contavam quando éramos mais pequenos e que lições podem ser tiradas delas...