Tortura de Dentista

Sempre que vamos ao dentista, estamos a pactuar com a tortura indiscriminada que esses profissionais da saúde praticam. Não me refiro ao medo que o paciente possa ter por uma ou outra ferramenta que é usada durante a consulta. Ainda que pareçam assustadoras, acredito que nem mesmo um alicate, uma sonda ou até uma broca sejam tão subversivos. A verdadeira tortura começa já a consulta tem por norma começado. Depois de uns instantes confortavelmente reclinado - embora que tenso - na cadeira de dentista, surge o primeiro avanço do que se tornará uma conversa. E como em tantas outras ocasiões, a meteorologia é um dos temas verosímil a debate. E é neste ponto que as coisas se tornam diferentes, na medida em que este debate assemelha-se mais a um monólogo do que a uma conversa ponderada onde se discutem pontos de vista diferentes mas sobretudo pontos de vista semelhantes. É de facto uma tortura quando estamos completamente impotentes e não somos capazes de responder e argumentar contra algo que nos é dito. Minto. Podemos alegar que "haaaaaaaaaaaaaaa" ou "eeeeeeeeeeeeih" que, tendo em conta a nossa situação tornam-se ferramentas valiosas. Levantar a mão esquerda se estiver a doer é um método de comunicação necessário e útil obviamente, mas insuficiente tento em conta a complexidade dos temas que muitas vezes são debatidos. A verdade é que nem os dedos dos pés chegariam para expressar tudo aquilo que facilmente expressamos verbalmente. Há uma espécie de contrato, que não existe fisicamente, estabelecido entre o paciente e o dentista. A nossa liberdade de expressão é nesta situação menosprezada e no entanto pactuamos e estamos completamente de acordo com isso uma vez que se trata de um serviço. E, na generalidade a sociedade aceita que assim seja. Os que não, podem gabar-se disso mas certamente terão tártaro acumulado entre os dentes. Temos perfeita noção de quando é legítimo privar alguém desta liberdade e sobretudo de quando não é, - na maioria das vezes que estamos para lá de um consultório de dentista. Devíamos aprender mais com uma destas visitas que faz parte do quotidiano, - embora que muitos tentam evitar. Por vezes as ferramentas que eles usam provocam sofrimento, e no entanto temos consciência de que nos estão a prestar um serviço do qual sairemos beneficiados! É uma alegoria para pensar.